Ao longo das últimas três décadas Nazareth Pacheco vem desenvolvendo uma produção artística de notável originalidade, cuja expressão é firmemente calcada na sua experiência pessoal. Assim como outros da sua geração, a artista tomou sua condição feminina e sua biografia, em particular as narrativas relacionadas a história de seu corpo, como matéria prima de suas experimentações tridimensionais. Entretanto, ao contrário de muitos de seus pares, não se preocupou em inserir nesses objetos a expressividade individual de seu gesto, criando trabalhos isentos de romantismo e personalistas.

“Guardados pela razão descrente e quase cínica que suas formas incorporam, estes adornos são como objetos votivos postos ao avesso de seu intento: construídos não como agradecimentos pelo alcance de graças pedidas, mas como reconhecimento dos limites do que é possível alcançar no âmbito dos procedimentos humanos. Expostas em relicários de acrílico, as obras de Nazareth Pacheco são testemunhas caladas e imóveis do caminho imenso, doído e frágil da construção de um corpo que a ele próprio não se contenta. E é a partir desta singularidade absoluta que seu trabalho toca a dor do outro, se alarga e encontra lugar no mundo.” – Moacir dos Anjos