Ensaio sobre o ingovernável
Curadoria: Paulo Kassab Jr.
Cabeça de Tempestade
E se cada palavra se repetisse como os ponteiros de um relógio? E se cada palavra se repetisse?
Esculpir o tempo
, 2024Areias de Soledade
, 2024Mangue seco
, 2024“Ressaca” Minha homenagem a Kanagawa.
, 2024Se cada palavra se repetisse como o tempo, as estações. E se? Repetissem como se fosse ontem, mas voltassem tortas, aleatórias, instáveis? Primavera, verão, outono, inverno, primavera, verão, outono, inverno, inverno, inverno, verão, verão… que nada mais se prevê. Nem bússolas, nem birutas, mapas meteorológicos, aplicativos ou tábuas das marés. A sirene soou e ninguém ouviu. A palavra virou mar bem antes do sertão. A sirene soou e ninguém ouviu. A tempestade engoliu o verbo e com ele a fala, os avisos, os símbolos. É curiosa a expressão utilizada para descrever o ponto de maior intensidade de uma tormenta, geralmente associada a fenômenos meteorológicos como furacões, ciclones tropicais ou tufões: cabeça de tempestade. A gente nomeou, mas não percebeu. Inquieto, angustiado – cabeça de tempestade, Kilian Glasner repete a Grande Onda de Kanagawa, 1 homenagem em pastel e pigmento puro.
“O desenho das ondas é uma espécie de versão divinizada do mar, feita por um artista que viveu o terror religioso do oceano avassalador que cercava completamente seu país, impressiona pela fúria repentina de seu salto ao céu, pelo azul profundo do lado interior de sua curvatura, pelo respingo de sua crista que espalha um orvalho de pequenas gotas”.
A análise sobre a obra de Hokusai é de Edmont de Goncourt, de meados dos anos 1850. O desenho das ondas é uma espécie de versão divinizada do mar, feita por um artista que viveu o terror religioso do oceano avassalador que cercava completamente seu país… e se as palavras voltassem emprestadas a novos significados?
SWELL
, 2024EPAHEY ODOIÁ
, 2024Mais de 170 anos depois, dois mil e vinte e um, a casa transmutada em cinzas, pandemia, desgoverno. Kilian se isola no mar. Pesquisa a oscilação das águas, o humor das marés. De dentro assiste outras tempestades, ansiedade, insegurança, aflição. Ninguém previu: nem bússolas, nem birutas ou mapas meteorológicos… é neste cenário que surge “ensaio sobre o ingovernável”. Antes seria evitável, mas alguém escutou a tempestade? Desde então, o pantanal queimou, as marés subiram, a lama caiu sobre o litoral e, todos nós, que ensurdecemos em nossa arrogância, caímos juntos. E “por que nos causa desconforto a sensação de estar caindo? A gente não fez outra coisa nos últimos tempos senão despencar. Cair, cair, cair. Então por que estamos grilados agora com a queda? ”, perguntaria Ailton Krenak.
1.Hokusai, Katsushika. “A Grande Onda de Kanagawa.” Século XIX, Ukiyo-e, Museu Metropolitano de Arte, Nova York.
2.AILTON Krenak, Idéias para adiar o fim do mundo. Pag 14 – Companhia das Letras
A dança dos ventos
, 2024Políptico: Birutas
, 2024Kilian Glasner
Recife, 1977. Vive e trabalha em Recife, Brasil.
Começou os estudos nos anos oitenta, (ainda criança). E ganhou seu primeiro prêmio aos 21 anos no Salão de Artes Visuais de Pernambuco. Com 22 anos se mudou para Paris onde se graduou na ecole des Beaux Arts. Durante esse período foi aluno do artista Giuseppe Penone e realizou exposições em Paris, Londres, Itália, Bélgica e Holanda. Voltando ao Brasil em 2007 entrou para a Galeria Laura Marsiaj-RJ, Moura Marsiaj-SP e Mariana Moura. Ganhou o prêmio Rumos Visuais do Instituto Itaú Cultural com a instalação “Rua do Futuro”. Em 2010, foi convidado pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa para realizar uma enorme instalação chamada “O Brilhante futuro da cana-de-açúcar“.
Expôs na Galeria Marco Antonio Vilaça ao ser contemplado com o prêmio Santander. Realizou exposições individuais nas capitais Brasileiras com patrocínio institucional do Instituto Caixa Cultural, Itaú Cultural, Santander Cultural, Centro Cultural Banco do Brasil. Nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, salvador, Rio Branco, Pernambuco, Curitiba , João Pessoa e Recife.
Em 2012 voltou para Europa e se instalou na cidade de Berlim onde morou por dois anos. Durante esse período realizou exposições em Bruxelas na Galeria Reinhart, nas embaixadas brasileiras de Londres e Atenas.