Considerado por especialistas um dos melhores do mundo em coberturas esportivas, o paraibano Alberto Ferreira ganhou prêmios importantes durante os 30 anos que trabalhou no jornal do Brasil (25 anos como editor do departamento de fotografia). Uma de suas fotos mais famosas, que lhe valeu o prêmio Esso de fotografia em 1963, registra o exato momento em que Pelé, na partida contra a Tcheco-Eslováquia, sente a contusão que o afastou definitivamente da Copa do Mundo do Chile, em 1962. Alberto Ferreira esteve presente nas principais coberturas fotográficas durante a época em que trabalhou e assim, através de suas lentes e seu olhar único, documentou importantes momentos da história do Brasil e do mundo. Produziu o maior e mais completo acervo autoral sobre a construção e a inauguração de Brasília. De 1958 até sua inauguração em 21 de abril de 1960, Alberto Ferreira esteve por diversas vezes na cidade acompanhando a Condessa Pereira Carneiro, dona no Jornal do Brasil na época. Hoje, Alberto faz parte da coleção da Maison Européene de La Photographie e é considerado pela MEP como um dos 28 maiores fotógrafos do século, ao lado de nomes como Robert Doisneau, Edouard Boubat, Pierre Verger, Henri Cartier Bresson, entre outros.
Todos Os Jogos, O Jogo
Texto Curatorial : Paulo Kassab Jr.
Estádio VI
, 2014Estádio III
, 2011Salvo o que creem alguns poucos lunáticos, está comprovado que o mundo gira em torno de uma bola que roda. No entanto, a cada quatro anos um fenômeno planetário hipnotiza bilhões de terrestres que fixam os olhos nos gramados e campos da terra à espera de um momento fascinante e imprevisível, sempre protagonizado por um outro globo, a pelota que desliza sorrateira entre as pernas de um zagueiro, se ajoelha, reverencia e coroa o rei negro que faz de bobo um gigante sueco, vinga a antiga batalha pelos pés de um deus canhoto que finta uma multidão de nobres, seis no campo e milhares fora deles, para estufar as redes e o peito dos que apreciam a arte do jogo. No centro das atenções, heroína ou vilã em todas as encenações deste palco retangular de grama verde, a bola. Certa vez um jornalista perguntou à teóloga alemã Dorothee Sölle como ela explicaria a um menino o que é a felicidade. Ao que ela respondeu: não explicaria. Daria uma bola para que jogasse.
Muito antes de industrializarem a pelada, tomarem de assalto a espontaneidade em prol do resultado, fazerem dos clubes empresas e da grande empresa que os controla máfia, já existia a bola que, mesmo quando feita de pano, estopa, meia ou papel, girava e transformava àqueles que dançam com ela, a acariciam e embalam no peito dos pés, em ídolos. Para muitos meninos no Brasil, em geral pobres e negros, é uma das raras possibilidades de ascensão social. A bola é a única varinha mágica em que podem acreditar. Talvez ela lhes dê o que comer, talvez os transforme em heróis, talvez em deuses.
1.Galeano, Eduardo – Futebol ao sol e à sombra, pág 51. L&PM fevereiro 2019
Futebol, Bicicleta do Pelé G
, 1965Série TRAMAS l Quadra
, 1989Futebol, ‘O Rei se curva diante da dor que o Brasil inteiro sentiu’ (Vintage)
, 1962Ele e a Bola #3
, 2005Ele e a bola #6
, 2005Ele e a bola #7
, 2005Olho no lance. Aqui não se enxerga mais o ufanismo pedante dos uniformes, os anúncios ambulantes, tampouco as cifras milionárias dos que transformaram paixão em negócio. Silêncio. O tempo se detém e a gravidade deixa de existir para ver o menino flutuar: olhos para o céu, corpo paralelo ao campo, braço levemente inclinado e a perna direita esticada. O fotógrafo eterniza o imensurável. Aqueles corpos permanecem ali até hoje, inertes, mudos, no mesmo lugar, à espera de um desvio na bola que, por preciosismo, não entrou.
A cada dia parece mais difícil assistir a uma nova jogada magistral, assim vamos aos estádios implorar por um milagre que mesmo quando surge do lado adversário, comemoramos silentes para não chamar a atenção dos mais jovens, torcedores incipientes. O jogo ficou chato, metódico, o que ja foi mandinga virou dever. Enquanto lugar de poesia, exaltação e delírio, o futebol é espaço da imaginação e da engenhosidade. O artista domina o tema, apaixonado passa por cima das maçantes regras “padrão Fifa”. Muda os contornos do campo, desloca os jogadores, sugere novos tempos em distintos espaços à espera de, quem sabe, novos arranjos, insólitas composições, outras configurações de mundo.
A exposição “Todos os jogos, o jogo” é uma homenagem ao futebol. Não à copa do mundo ou as organizações que se pretendem donas do jogo, mas ao gesto simples e primoroso, ao craque de pés descalços, ao improviso, à quadra riscada em giz no asfalto das ruas ou delimitada com chinelos em terrenos baldios e aos batentes das portas, primeiras traves, que levam consigo o brado desesperado dos pais a disputar com o êxtase, o grito insuperável do gol.
2.Farias, Agnaldo – Futebol no campo ampliado, Eduardo Coimbra, pág 17. RJ, Tisara 2014
Ele e a bola #8
, 2005Série Jornal | Barreiras: Bola cruzada
, 1972Renda
, 2002Alberto Ferreira
Paraíba, 1932 – Rio de Janeiro, 2007.
Ana Vitória Mussi
Santa Catarina, 1943.
Artista-fotógrafa, assim nomeada pelo crítico e curador Paulo Herkenhoff, Ana Vitória Mussi é responsável por uma vasta produção que integra fotografia, imagem em movimento, objetos e instalações. Entre 1968-1973, estudou arte com Ivan Serpa e fotografia com Kaulino e Ricardo Holanda, no Senac, Rio de Janeiro. De 1979 a 1989, trabalhou como repórter fotográfica. Sua obra, muitas vezes associada a uma sutil poética da resistência, oferece, por meio da linguagem artística, um campo para a crítica social, principalmente com relação à ambiguidade suscitada pelas imagens da mídia. Durante a ditadura militar do Brasil, por exemplo, desenvolveu pesquisa com jornais da época (série Jornais, 1970), atribuindo visibilidade à censura, além de ter utilizado a própria programação televisiva (série NA TV!, 1975-1996) como meio de expressão. Após este período, estudou serigrafia com Dionísio Del Santo e Evany Cardoso na EAV/Parque Lage, entre 1989 e 1990, e produziu a série Impressões [1992 – 1997], até começar utilizar os próprios negativos como suporte (série Negativos [1974 – 2006]). Ana Vitória Mussi já participou de diversas exposições, individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
Eduardo Coimbra
Rio de Janeiro, 1955.
Eduardo Coimbra é conhecido pelas suas instalações arquitetônicas site‑specific com mídias variadas. Seus primeiros trabalhos usam objetos cotidianos resgatados do anonimato por meio de pequenos motores e circuitos luminosos. Muitas vezes convidando a participação do público, a obra de Coimbra inclui paisagens construídas, bem como maquetes de ambientes por vezes imaginários. Nasceu em 1955, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Participou da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e da 3ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (2001), ambas no Brasil. Algumas de suas mostras individuais recentes são: Fatos Arquitetônicos (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, Brasil, 2015); 2 Esculturas (Praça Tiradentes, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Entre arquitetura e paisagem (Studio X, Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Nuvem (Lexus Hybrid Art Project, Moscou, Rússia, 2013; e Arte na Cidade, São Paulo, Brasil, 2012); Museu observatório (Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil, 2011); e Natureza da paisagem (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 2007).