Mitos, contos e alegorias
texto curatorial de Igi Lola Ayedun
Mitos, contos y alegorias desamarrados em um pano de boca.
Imagine… o céu.
Nuca tombada, cervical tensionada, torácica enrijecida, lombar vibrante, sacro alongado, cóccix dormente.
Temporal derramado, asa maior a bater, frontal a aquecer para na lâmina orbital descansar y no osso lacrimal despejar o prazer em evocar imagem.
Mandíbula esticada, forame mentual y maxila esgarçadas ao perceber entre tantos devaneios o próprio céu dentro de si. Este mesmo profundo, inflamado y refletivo na fumaça de um hálito embriagado a menos de noventa graus em direção ao púlpito superior das ideias de gente sobre o mundo.
O poder de fabricar verdades a partir do que se vê.
Imagine, então, a devoção que se ergue na quebra do semitendíneo em queda, no afinco da patela y no impacto do músculo tibial anterior sobre o solo!
A expansão do visível enquanto sistema de fé.
Imagine, também, na sinfonia de uma só nota conduzida por muitas vozes, a articulação radiunar proximal arder y elevar radio y ulna na rendição do carpo, metacarpo y das falanges de palmas viradas às estrelas.
A materialização da imagem enquanto sistema de ordem.
Tudo absoluto se estabelece naquilo dito seu lugar, a engrenagem da iconografia prevalece em alta gesticulando a propaganda do belo, do amor y da guerra.
As imagens mentem.
iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, quanto torpor!
Ainda, assim, desobedeça. Desorganize, desconfigure, desconjunte y desacorde cada centímetro do senso comum de formalização das coisas, doutrinadas a partir de funções míseras de mecanismos de poder cretino que interpelam a liberdade da existência natural.
Desfigure.
Desfigure a imagem. Desfigure a imagem da imagem, da imagem da imagem y da imagem y, também, desfigure a imagem da imagem da imagem, até a figura não ser mais imagem y com ela se vá a representação, a personificação, a parecença, o símbolo, a imitação, a cópia, o retrato, cena, o ícone, o modelo, semelhança, o reflexo y a replica para que finalmente sejamos completamente tomados pelo sensível.
Conte à ela que até os anjos nos flagraram dançando.
Igi Lola Ayedun
Anjo Caído
, 2024Estrela Cadente
, 2024Cavalo Alado
, 2024Angelicalmente desconfigurado
, 2024Rabo de diabo, asa de morcego, dente de princesa
, 2024Mitos 2
, 2024Desnatureza | Extinção
, 2024Desnatureza | Miscigenação
, 2024Anjo Gabriellico 1
, 2024Descobrimento
, 2024Ser
, 2024Céus 2
, 2024Céus 1
, 2024Algum paraíso 1
, 2024Algum paraíso 2
, 2024Algum paraíso 4
, 2024Algum paraíso 3
, 2024“Em alguns trabalhos levanto imagens históricas coloniais, como na obra “Contra-História” que através de uma gravação a laser sobre pedra de mármore, apresenta a reprodução da pintura “Primeira Missa” de Victor Meirelles a qual foi financiada pelo império de Pedro ll com o intuito de perpetuar o que fora uma imagem forjada que encenava de forma pacífica esse processo inicial referente a catequização dos povos originários durante o período colonial. Junto da obra, encontra-se disponível ao espectador uma ferramenta que traz a oportunidade não só de apagar mas também de adicionar à aquela cena o que for de sua vontade, tecendo assim, uma nova história.
Ao adentrar os espaços da exposição, o visitante é confrontado com uma diversidade de peças iconográficas jamais vistas. Ora figurativas, ora abstratas, os novos símbolos instigam uma reavaliação da história: o que é o real? O que determina que uma imagem seja digna de adoração? Onde está a fronteira entre mito, conto e alegoria?”
– Gabriella Garcia
Canto de Sereia
, 2024Te Ofereço
, 2024Contra-Historia
, 2024Gabriella Garcia
Rio de Janeiro, Brasil, 1992. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Gabriella Garcia, é uma artista autodidata, cuja prática transita entre escultura, pintura e instalação. O trabalho de Gabriella compreende não apenas o lugar onde está como também aquilo de onde deriva. Figuras recortadas tomam o espaço a partir de trabalhos onde diversos materiais dialogam na construção de peças que possuem, em suas composições, relações com o cênico, com arquitetura e que propõe perspectivas de uma nova historia a partir de imagens e materiais, muitas das vezes resgatados e restaurados pela artista. Na construção de uma imagem, seja ela bi ou tridimensional, Garcia trabalha em um contínuo esforço de fusão: uma incessante busca de assimilação de materiais que, em suas essências, trazem na sua materialidade dados históricos e novas idéias de representação a partir de uma proposta de descontinuação de farsas históricas. Os trabalhos colocam à prova um exercício vívido de confronto entre gesto e natureza; manipulação vs reestruturação, criando um jogo onde o que se entende como terreno é a possibilidade singular que o gesto artístico possui de reescrever nossa própria história.
Anjo Caído
, 2024Gabriella Garcia
Estrela Cadente
, 2024Gabriella Garcia
Cavalo Alado
, 2024Gabriella Garcia
Angelicalmente desconfigurado
, 2024Gabriella Garcia
Rabo de diabo, asa de morcego, dente de princesa
, 2024Gabriella Garcia
Mitos 2
, 2024Gabriella Garcia
Desnatureza | Extinção
, 2024Gabriella Garcia
Desnatureza | Miscigenação
, 2024Gabriella Garcia
Anjo Gabriellico 1
, 2024Gabriella Garcia
Descobrimento
, 2024Gabriella Garcia
Ser
, 2024Gabriella Garcia
Céus 2
, 2024Gabriella Garcia
Céus 1
, 2024Gabriella Garcia
Algum paraíso 1
, 2024Gabriella Garcia
Algum paraíso 2
, 2024Gabriella Garcia
Algum paraíso 4
, 2024Gabriella Garcia
Algum paraíso 3
, 2024Gabriella Garcia
Canto de Sereia
, 2024Gabriella Garcia
Te Ofereço
, 2024Gabriella Garcia
Contra-Historia
, 2024Gabriella Garcia