Fatos Cromáticos
Vincent e o Rio
, 2022Roll up for the mystery tour
Há uma cor que me persegue e que eu odeio,
Há uma cor que se insinua no meu medo.
Porque é que as cores têm força
De persistir na nossa alma,
Como fantasmas?
Há uma cor que me persegue e hora a hora
A sua cor se torna a cor que é a minha alma.
Ricardo Reis.
Na encruzilhada, entre o azul e o verde, seguindo a linha vermelha, ao lado do amarelo de um Van Gogh que incursiona por terras cariocas (“Vincent e o Rio”), encontram-se Frankie Valli (“Can’t take my eyes off you“) e “Zé Keti”. Pode parecer uma convergência inusitada, mas aqui não há regras a não ser as cores que se repetem e, tal qual o Ritornello1 em uma partitura, aos poucos definem e referenciam os espaços a serem decifrados.
Zé Keti
, 2022In a Sunset mood
, 2022Can’t take my eyes off you
, 2022Se na poesia Rimbaud revela as cores das letras: “A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais: ainda desvendarei seus mistérios latentes”2, em “Fatos Cromáticos”, de Eduardo Coimbra, a cor, que invade as paredes, enquadra e conecta cada uma das obras, é um enigma a ser descoberto. Seria o azul de “Quasiláteros” a mesma água que transborda em “Mar del Plata”? E o amarelo, que emerge em “In a Sunset Mood”? Será o sol ou apenas a luz que pisca no “Chip” e acende a vela em um samba colorido de “Ze Keti”?
Construídas através da sobreposição de um conjunto de diferentes formas geométricas, pretas, brancas, amarelas, verdes, vermelhas e azuis, as obras de Edu exploram a espacialidade e rotulam retângulos, quadrados, vãos e frestas, pela recorrência da cor. Do mesmo modo que os os arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers, ao projetar o Centro Georges Pompidou em Paris, definem diferentes cores aos sistemas elétricos, hidráulicos e de locomoção como estratégia de identificação por associação3, Coimbra nos informa que a cor é um lugar, porém, cabe a nós deslocá-lo de qualquer funcionalidade arquitetônica para nomeá-lo a contento da imaginação.
As esculturas, semelhantes a maquetes, suporte frequentemente utilizado pelo artista, são na verdade “maquetes-sonhos, que propõem outras leituras de nossa paisagem mais humana”, como bem definiu Adolfo Montejo Navas4. Ao se deparar com elas, “prepare-se para a viagem misteriosa” em que os tais sistemas de representação não tem compromisso algum senão com o devaneio: queremos atravessá-los, adentrar as escadas, tocar as teclas, abrir as persianas para ver o mar e, quem sabe, enxergar, pesada e vagarosa, uma grande morsa sentada em um jardim inglês a esperar o sol5.
Paulo Kassab Jr.
1. Na música, O Ritornelo é um símbolo representado por duas barras verticais, seguidas de dois pontos. Os dois pontos ficam virados para a direção em que devemos seguir. Esse sinal geralmente é utilizado em pares, que indicam o trecho que deve ser repetido.
2. Rimbaud, Vogais. Tradução: Augusto de Campos
3. No Centro Georges Pompidou, em Paris, As tubulações azuis são usadas para ar condicionado, as verdes representam o circuito de água, as amarelas contêm os dutos elétricos, as brancas indicam as torres de ventilação, enquanto todas as vermelhas, simbolizam elementos relacionados à circulação no edifício.
4. Adolfo Montejo Navas, Isto não é uma maquete, 2003 – texto incluído no livro Eduardo Coimbra, editora Casa da Palavra, 2004
5. Trecho da música I’m the Walrus, The Beatles, 1967
Chip
, 2022Mar Del Plata
, 2022Quadrado Vermelho
, 2022Quasiláteros
, 2022Têxtil
, 2022Sigma 457
, 2022A Grande Morsa
, 2022Eduardo Coimbra
Rio de Janeiro, 1955
Eduardo Coimbra iniciou sua atividade artística no começo dos anos 90. Participou de exposições individuais e coletivas nas seguintes instituições: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Museu do Açude, Museu da República, Paço Imperial, CAIXA Cultural, Centro Cultural Banco do Brasil, Centro de Arte Hélio Oiticica, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Espaço Cultural Sérgio Porto, Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Bienal de São Paulo, Museu da Casa Brasileira, Centro Cultural São Paulo, Centro Universitário Maria Antonia, Instituto Tomie Ohtake, Galeria Nara Roesler, em São Paulo; Museu de Arte da Pampulha, Palácio das Artes em Belo Horizonte, MG; Centro Cultural Banco do Brasil, FUNARTE, Espaço Cultural 508 Sul, em Brasília, DF; Museu Vale do Rio Doce, em Vila Velha, ES; OK, Offenes Kulturhaus Oberösterreich, Linz, Galerie der Stadt Schwaz, Schwaz, na Áustria; Museo de Arte Moderno de Buenos Aires, Palácio Pereda, em Buenos Aires, Argentina; Somerset House, Parasol unit, em Londres, Inglaterra; Fundação Kalouste Gulbenkian, em Lisboa, Portugal; Centre Gallery, em Miami, EUA; Centro per l’arte contemporanea Luigi Pecci, em Prato, Italia
Realizou trabalhos no espaço público nos seguintes locais: Praça XV de Novembro, Praça Tiradentes e Jardins do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro; Praça Charles Miller e Largo da Batata, em São Paulo; Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre, RS; Kusnetsky Most, em Moscou, Russia; Lange Voorhout, em Haia, Holanda
Vincent e o Rio
, 2022Eduardo Coimbra
Zé Keti
, 2022Eduardo Coimbra
In a Sunset mood
, 2022Eduardo Coimbra
Can’t take my eyes off you
, 2022Eduardo Coimbra
Chip
, 2022Eduardo Coimbra
Mar Del Plata
, 2022Eduardo Coimbra
Quadrado Vermelho
, 2022Eduardo Coimbra
Quasiláteros
, 2022Eduardo Coimbra
Têxtil
, 2022Eduardo Coimbra
Sigma 457
, 2022Eduardo Coimbra
A Grande Morsa
, 2022Eduardo Coimbra