Ágora
texto curatorial de Paulo Kassab Jr.
O que?
É no mínimo curioso, dentro de um universo de tantas verdades, afirmações, radicalismos, que alguém hoje se proponha à dúvida. Há sempre uma resposta na ponta da língua ou dos dedos e a ela milhares de contra-argumentações, cancelamentos, razões. No entanto, todo entendimento ocorre em um campo de ambiguidade, nossa relação com o mundo não é baseada em uma compreensão intelectual pura, mas na experiência vivida que é, por natureza, incerta e aberta à interpretação. E se de repente, ao olharmo-nos no espelho, não nos enxergássemos? A consciência é ao mesmo tempo certeza de si e dúvida sobre si. “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”
Como artista, Claudio Alvarez é um disseminador de incertezas, sua obra se revela entre o tangível e o fictício, sugere uma perspectiva de mundo indefinida em que a consciência está em constante interação com uma realidade fluida, como se a dúvida fosse inseparável da experiência humana, lugar da perplexidade que nos arrasta ao abismo da existência em que somos forçados à escolha. Mas o que há do outro lado da janela onde dançam as vestes? Os estudos estão aqui para desvendar o mistério e por isso experimentamos, erramos, pesquisamos e tomamos posições que podem, por um tempo, estabelecer o certo, até que descubramos outros e este se torne arcaico. Eis o próprio sentido e o motor da ciência, o que a distingue da fé. O incerto.
Assim, nos vemos em nossa própria ágora na qual estabelecemos nossas prioridades, verdades e conflitos e onde o questionamento é ferramenta essencial entre nós e o mundo. A dúvida torna-se um convite para viver de forma absoluta mesmo em meio ao risco do deslize ou equívoco do olhar.
Do fictício que se vê faz-se o real. Há distinção? Não sei.
Paulo Kassab Jr.
Fluxo
, 2024Janelas
, 2024Desvio
, 2024Eco
, 2024Lúmina
, 2024Pequeno Ágora
, 2024Espelho, espelho meu
, 2024Corpo e Alma
, 2024Ágora
, 2024Claudio Alvarez
Rosario, Argentina, 1955. Vive e trabalha em Curitiba, Brasil.
Pesquisador do movimento e da percepção, Claudio Alvarez propõe desafios ao olhar, construídos como mecanismos em que aquilo que vemos entra em contradição com aquilo que sabemos. Ilusões de ótica, jogos de espelho e iluminação, objetos móveis e formas dinâmicas são elementos que formam seu amplo repertório de jogos visuais.
Segundo o crítico de arte, Fabrício Nunes, “Alvarez desenvolve construções que ativam uma percepção que alia análise e fascínio, raciocínio e ilusão – dois modos fundamentais da relação humana com o mundo”.
Em suas obras, estruturas geométricas são relativizadas, colocadas em movimento através de situações de equilíbrio oscilante e dinâmico. A ilusão de ótica, presente em outras, provoca questionamentos sobre nossa própria percepção, o mundo real e o mundo das aparências. Unindo fluidez, ilusão e materialidade, as obras de Alvarez estabelecem uma racionalidade em que a sensação também é pensamento.
A exposição “Como vai você, geração 80?” realizada no Parque Laje, em 1984, no Rio de Janeiro, marca o início de sua atuação no cenário artístico brasileiro e de uma série exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais.
Fluxo
, 2024Claudio Alvarez
Janelas
, 2024Claudio Alvarez
Desvio
, 2024Claudio Alvarez
Eco
, 2024Claudio Alvarez
Lúmina
, 2024Claudio Alvarez
Pequeno Ágora
, 2024Claudio Alvarez
Espelho, espelho meu
, 2024Claudio Alvarez
Corpo e Alma
, 2024Claudio Alvarez
Ágora
, 2024Claudio Alvarez