DRAMA DREAM

    DRAMA DREAM

    Viewing Room
    Texto Curatorial : Ticiana Porto
    PDF

    Arqueologia do inconsciente

    , 2022
    A Luminância do Breu

    Em algum momento a vida nos oferece um encontro a sós, no escuro de questões que habitam o que foi, que é e o que projetamos. Um lance inevitável de dados faz um antes e depois, o corte cria o lastro de uma nova consciência. Bruno Vilela subverte e provoca esse encontro, através de uma ritualística do enfrentamento: ele vai ao breu para extrair de lá luminância e cor.

    A mãe de São João acende uma fogueira pra dizer que o filho nasceu

    Assim, cria um espaço de confluência, onde sua grafia vibra no sonho e ecoa o avesso de si. Je est un autre. Lá e cá despertam planos e camadas em serigrafias e óleo. Bichos, bestas; deuses acordam as flores não identificadas a redução do ornamento. São o fruto, o rebento, aquilo que brota.

    Na série que faz a narrativa da exposição, roxo; fúcsia e amarelo despontam significantes, ressoando o que irrompe após o acidente no calcanhar de Aquiles. O que é preciso romper para que se possa sustentar? É no isolamento; no olho que olha o filho; na incorporação do mantra; no encontro com a carne dos deuses, que o caminhar se reintegra.

    Eu sou e não sou. Uma consciência expande. O peixe se torna o cardume

    Em Arqueologia do Inconsciente, a cena da matança pode ser também cópula. Em Kali, o que perturba também carrega no ventre, mãos. N´O Oráculo da Noite, o drácula que sanguessuga a representação, está entre vasos-berços de civilizações. Em Vishnu resgata Oxum, a sustentação liberta a sabedoria do feminino. Em O Teosofista o carvão está para o amarelo.

    Aos 25 anos eu vi um ipê amarelo e aquela epifania me marcou…

    As últimas palavras de Wiliam Turner foram: Deus é o Sol

    A imagem do eremita, que vive no ermo com intuitos contemplativos e espirituais, redimensiona a ritualística do enfrentamento. Eu só fiz o que fiz e estou falando aqui, porque eu me isolei. Assim como a ideia de símbolo. Para Vilela, são os símbolos que fazem a ponte do projeto ao processo.

    Etimologicamente, a palavra símbolo exprime o ato de levar o que se guarda. Uma das representações do símbolo são as mãos unidas, formando uma concavidade, num gesto de oferenda, doação. As mãos como símbolo de todos os símbolos, como revestimentos de significação, ou ainda com Schneider e caro a Vilela, a mão como manifestação corporal do estado interior do ser humano, indicando o estado de espírito, quando este não se manifesta pela via acústica.

    Ticiana Porto

    São Paulo, 01 de Setembro de 2022

    O Oráculo da Noite

    , 2022

    Kali

    , 2022

    Fóssil Cintilante

    , 2022

    Mesa Branca

    , 2022

    Liliput

    , 2022

    O Teosofista

    , 2022

    The Hall of Mirrors

    , 2022
    Bruno vilela

    Vishnu resgata Oxum

    , 2022

    O Livro dos Sonhos

    , 2022

    O Espírito do Lago

    , 2022

    Bruno Vilela
    1977, Recife – Brasil

    A poética do artista, que vem sendo afinada há mais de vinte anos, é conhecida pelo repertório de símbolos, mitos e arquétipos que conjugam natureza e cultura, tencionando categorias a priori distintas, em busca de um pensamento mágico. Reunindo imagens de várias manifestações culturais, Vilela elabora um léxico próprio, tendo a natureza como constante protagonista. Onças, matas fechadas, densas florestas tropicais, folhagens, rios e barcos nos convocam a uma experiência imersiva. Diante de sua pintura, por vezes questionamos a noção de tempo histórico, como se a narrativa se situasse num suposto “estado primordial” do humano.

    É preciso, ainda, situar a obra do artista dentro de questões caras ao século XXI, como o colapso do modelo civilizatório ocidental junto ao intenso movimento de revalorização de saberes e tecnologias de comunidades tradicionais. A partir da experiência de catástrofes ininterruptas e múltiplas falências do projeto moderno, questionamos o privilégio da ciência em detrimento de outros modelos de produção de sentido. Creio que o trabalho de Vilela está orientado com esta perspectiva, uma vez que traz a tona um conjunto de referências dissidentes, como a religiosidade afro-brasileira e os mitos amazônicos. Pollyana Quintella.

     

    Arqueologia do inconsciente

    , 2022
    óleo, acrílica e folha de ouro sobre tela,
    200 x 150 cm,

      O Oráculo da Noite

      , 2022
      óleo, tinta acrílica e folha prateada sobre tela,
      200 x 150 cm,

        Kali

        , 2022
        óleo, acrílica e folha de ouro sobre tela,
        200 x 150 cm,

          Fóssil Cintilante

          , 2022
          óleo sobre tela,
          190 x 170 cm,

            Mesa Branca

            , 2022
            oil, acrylic and metallic foil on canvas,
            170 x 150 cm,

              Liliput

              , 2022
              óleo, acrílico e folha de ouro sobre tela,
              150 x 130 cm,

                O Teosofista

                , 2022
                Carvão, pastel seco, acrílica e folha de ouro sobre papel,
                152 x 124 cm,

                  The Hall of Mirrors

                  , 2022
                  pastel seco e acrílica sobre papel,
                  80 x 71 cm,

                    Vishnu resgata Oxum

                    , 2022
                    impressão fine art sobre acetato instalada em backlight,
                    80 x 59 cm,

                      O Livro dos Sonhos

                      , 2022
                      madeira, acrílica e veludo,
                      220 x 270 cm,

                        O Espírito do Lago

                        , 2022
                        impressão fine art sobre acetato instalada em backlight,
                        80 x 59 cm,