O inverso do avesso

“Só́ na linguagem, assim como na arte construtiva, tem lugar a elevação do homem do nível da ‘percepção’ sensível ao nível do ‘olhar’ propriamente ideal. Ambas são os órgãos que, no seu uso, mutuamente se pertencem e que atuam conjuntamente para a aquisição de uma imagem intuitiva do mundo” definiu Ernst Cassirer.

Desde seu surgimento, o movimento concreto defende que a arte deve ser “inteiramente concebida pelo espírito antes de sua execução e constituída de elementos plásticos em busca da pureza e do rigor formal”1. O significado da obra é a própria obra. No início dos anos 50, sob o impacto da I Bienal de São Paulo, o Grupo Ruptura diz em seu manifesto concretista que “a arte é um meio de conhecimento deduzível de conceitos”.

Sem apego a definições e com influência da arte concreta, as obras da exposição Geometria Invertida apresentam um mundo mutável e variante que não se mantém nunca o mesmo, mas depende da interação e intuição do espectador para sua constituição. Quadrados, triângulos, losangos e retângulos, brancos ou pretos, soldados em alumínio, surgem em distintas formas e desestabilizam harmonicamente cada uma das peças que emergem em formas gráficas gestaltianas. A realidade das obras são elas mesmas, não exprimem um significado ali presente, conhecido previamente, mas dão uma nova fisionomia e significação ao espaço como um todo.

Apesar do raciocínio matemático, as criações de Luiz Hermano ocorrem a partir da desordem das formas geométricas que, em suas ideias, parecem tornar-se maleáveis e intuitivas. As esculturas se despem da sua rigidez para habitar o imaginário e o onírico.
A exposição Geometria Invertida se abre para múltiplas possibilidades de abordagem e nos libera aos nossos próprios devaneios, exibindo cada obra como um “instante do mundo”2.

Curadoria | Paulo Kassab Jr.

1. Theo van Doesburg – Manifesto da arte concreta, revista Art Concret – Paris 1930.
2. Gaston Bachelard – O Direito de Sonhar (prefácios, artigos e estudos de 1939 a 1962).