Intuição do Instante
“Intuição do Instante”, de Alberto Ferreira, reúne 15 obras, das quais nove foram recentemente descobertas no acervo do artista e aparecem pela primeira vez em uma exposição.
Singular jornalista, Alberto era um fotógrafo compulsivo. Viveu no universo do documental, retratou como poucos os anos 60 e 70 e foi além. Registrou cada átimo dos locais por onde passou para tornar a memória uma imagem definitiva, invadida pela poética do instante completo, algo que apenas os obstinados conseguem encontrar. Tinha a intuição que faz com que os grandes fotógrafos prevejam os fatos frações de segundos antes que eles aconteçam. A Menina sozinha em meio a políticos de cartola parece brincar no ar em busca de um chapéu, trabalhadores fazem uma pausa na construção de Brasília e seus pés refletidos repousam sobre as nuvens ou as promessas de uma capital, cachorros presos um ao outro tiram a atenção do desfile militar. Sob uma diversidade de temas, um mesmo mundo desenha-se, onde, independente do lugar e do contexto, revela-se a ternura, a magia ou a sensibilidade do instante, que se liberta do seu caráter efêmero para sugerir um sentido.
Incansável e sempre com a câmera nas mãos, Alberto tinha a capacidade de enxergar, contemplar e, acima de tudo, se apropriar do cotidiano ao seu redor. Suas fotografias incorporam o imprevisível que se concretiza à sua frente, mas que em seu olhar e imaginação é cuidadosamente pensado e reconstruído. Cada imagem é uma espera: é o tempo que eterniza a criança a mirar “As Meninas” de Velazquez, que flagra o momento exato em que o garoto espia a mulher passar e espera o goleiro saltar em busca da bola.
Se o fotógrafo precisa estar no lugar e na hora certa para fixar para sempre o instante transitório, fica a impressão que Alberto Ferreira foi predestinado. Carregou os segundos consigo. O paraibano que foi ao Rio de Janeiro sonhando em ser goleiro do Flamengo, vai parar no Jornal do Brasil e cria, pela primeira vez no país, a área de jornalismo fotográfico. A convite de Juscelino Kubitscheck presencia a construção de Brasília, estava no milésimo de segundo que eternizou a bicicleta de Pelé e na queda de Nadia Comaneci nas olimpíadas de Moscou em 1980. Por ironia do destino, faleceu aos 75 anos no dia de seu aniversário.
Sempre mirando de olhos fechados o instante em que o fortuito encontra o seu alvo, Alberto Ferreira parece ter levado ao pé da letra a definição de Cartier Bresson: “Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração. É um estilo de vida”