O que?

É no mínimo curioso, dentro de um universo de tantas verdades, afirmações, radicalismos, que alguém hoje se proponha à dúvida. Há sempre uma resposta na ponta da língua ou dos dedos e a ela milhares de contra-argumentações, cancelamentos, razões. No entanto, todo entendimento ocorre em um campo de ambiguidade, nossa relação com o mundo não é baseada em uma compreensão intelectual pura, mas na experiência vivida que é, por natureza, incerta e aberta à interpretação. E se de repente, ao olharmo-nos no espelho, não nos enxergássemos? A consciência é ao mesmo tempo certeza de si e dúvida sobre si. “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”

Como artista, Claudio Alvarez é um disseminador de incertezas, sua obra se revela entre o tangível e o fictício, sugere uma perspectiva de mundo indefinida em que a consciência está em constante interação com uma realidade fluida, como se a dúvida fosse inseparável da experiência humana, lugar da perplexidade que nos arrasta ao abismo da existência em que somos forçados à escolha. Mas o que há do outro lado da janela onde dançam as vestes? Os estudos estão aqui para desvendar o mistério e por isso experimentamos, erramos, pesquisamos e tomamos posições que podem, por um tempo, estabelecer o certo, até que descubramos outros e este se torne arcaico. Eis o próprio sentido e o motor da ciência, o que a distingue da fé. O incerto.

Assim, nos vemos em nossa própria ágora na qual estabelecemos nossas prioridades, verdades e conflitos e onde o questionamento é ferramenta essencial entre nós e o mundo. A dúvida torna-se um convite para viver de forma absoluta mesmo em meio ao risco do deslize ou equívoco do olhar.

Do fictício que se vê faz-se o real. Há distinção? Não sei.

Paulo Kassab Jr.