Imagens e objetos sobrepostos de modo a suscitar a revelação de novos espaços em ambientes já conhecidos. Redesenhar o mundo ao redor para então redescobri-lo. É esse o pano de fundo de Entreaberto, primeira individual da artista paulistana Amalia Giacomini na Galeria Lume, que passa a representá-la a partir deste ano.

Com curadoria de Paulo Kassab, a mostra, que abre a partir de 2 de fevereiro, traz 14 trabalhos, entre painéis e instalações, que remetem a modelos geométricos construídos no espaço da galeria.

As obras são esquemas de representação do espaço no ambiente expositivo, somado a eles o mundo exterior. Este, por sua vez, é refletido por devaneios e pelas relações do espectador com o objeto.

“Já não há mais cisão entre sujeito e matéria. Entre o estar e o ser, o palpável e o onírico. Nas obras de Giacomini, podemos nos reconhecer novamente com o espaço e, neste caso, ser o espaço onde estamos”, afirma o curador.

Entre os trabalhos apresentados, estão alguns painéis de acrílico da série Memória Superficial (2015). Sobre um fundo chapado de cor única, retângulos e quadrados se sobrepõem, sugerindo ao observador a reminiscência de uma edificação. “São imagens simples, que se assemelham a portas e janelas e cujos vãos são atravessados pela luz. Está ali o mínimo para o entendimento de uma situação arquitetônica, a partir da representação de espaços enxutos”, diz Amalia.

Entre as obras inéditas da artista, está Janela sem vista (2017). Construída a partir de caixilhos metálicos e placas de vidro, o objeto remete à ideia de uma janela, cuja forma depende não só do ponto de vista do espectador, mas da sua interação com ele. Do outro lado, entretanto, uma parede branca toma o lugar de uma vista qualquer. A janela – que não é janela, uma vez que não é precedida por uma abertura na construção – é entendida como tal. É um não-objeto que se define por um sistema de representação comum àquele que o observa.