Desde sua última série, “Natureza Incontornável”, Kilian Glasner busca a imersão na natureza para encontrar a si mesmo vivenciado o isolamento. Para o artista, estudar a paisagem é mergulhar no espaço do mundo.

Após quase três meses imerso entre a Patagônia e o Pantanal Matogrossense, Kilian se (re)descobre em um tempo longínquo no qual a natureza se apropria do seu ser e o faz paisagem. Transmutado, reconstrói aquilo que vê, inventa e rearranja o espaço para assim relatar sua jornada na exposição “Encontros Austrais”. Abstraído pelo silêncio, o artista converte o mundo num lugar mais agradável e harmonioso, aparando arestas e deixando um rastro cintilante que marca com pigmentos e pastel seco, os lugares por onde passou. Diante de seus desenhos os sentidos
emergem através da cor, espalhadas por desertos habitados de um misterioso vazio onde nuvens se derramam a ocultar as montanhas e preenchê-las de um bege que a boca do vento espalha pelo papel. No marrom claro, no amarelo ou nos tons pastéis reconhecemos o cheiro árido da solidão. O olhar experimenta a terra, a poeira, o vento, a tempestade.

Em meio ao deserto, somos convidados a viajar ao Pantanal e tomar o lugar da paisagem aonde dançam os pássaros. Na instalação “Vôo”, inspirada no Buraco das Araras, no Matogrosso do Sul, Kilian interfere no vôo das araras para reconstruí-lo em uma poesia de imagens e sons, uma nova perspectiva, plena de liberdade e de uma imaginação sem limites. Na impossibilidade de recriar a natureza, a obra, em sua coexistência dinâmica com os contrários, diz mais do que a verdade, ela cria a verdade; ela não descreve a ação, ela a coloca diante de nós para vivenciarmos por alguns minutos o sentir do artista.

Em “Encontros Austrais” Kilian Glasner expõe a paisagem como um lugar de possibilidades, estrutura a exposição em fragmentos a fim de materializar a complexidade do meio e demonstrar que o espaço pode nos ensinar a olhar o mundo sobre novos aspectos, revelando realidades deixadas à margem do olhar.