Mariana de Matos is a trans-disciplinary artist. Born in the state of Minas Gerais, in the region of Vale do Rio Doce, the artist has witnessed the unfolding of a historical dispute between the rights of indigenous populations and the secular machine of progress. In 2009, she graduated in Visual Arts from Escola Guignard (UEMG). None of her teachers were black. She is currently studying for a Masters Degree in Literary Theory at UFPE. None of her teachers are black. Her research focuses on the contribution of black poetry to decoloniality. Her practice draws on the tensions between historical truth and polyphonic counter-narratives; identity and hegemony; power relations and renewed outlines for old structures. She investigates representation, symbols, the delirium of modernity, the invention of difference, subjectivity, self-narrative and colonial wounds. Using hybrid languages, she is interested in emotion as a system to enjoy the world, placing her practice on the frontier between image and word. Her practice encompasses painting, sewing, wood, expanded poetry, relational art, installation, urban poetic interventions, self-publication, performance and photography.
Antes de conhecer a Maré de Matos das instigantes coisas-artes que se situam, ou melhor, se deslocam em meio a espaços intersígnicos que a artista continuamente aproxima e tensiona, eu conheci a Mariana de Matos da fala- pensamento trovejante e desbordante, sem meias palavras nem “meias imagens”.
Já faz uns 5 anos que isso aconteceu, isso de vê-la/ouvi-la em um vídeo no qual sua fala-pensamento é acompanhada por um olhar-interrogação tão intenso e firme que de pronto tive a certeza de que aquela pessoa artista era alguém, no mínimo, muito interessante.
E era mesmo. É. Maré se distingue da maioria das pessoas artistas que surgiram no Brasil da década passada por lidar de modo bastante peculiar com a difícil questão das conexões possíveis entre poesia & arte & entre estas & as inúmeras camadas do real imediato.
Com sua fina inteligência sensível, fluida e serpenteante como o Rio Doce do seu tempo de criança e de até poucos anos atrás, a artista nos oferta um conjunto de objetos-conceitos que, ao tornar tangíveis questões cruciais desta época que pode ser a derradeira para a única espécie que nomeia a si mesma e a todas as demais formas de vida (e de morte), reafirmam a dimensão ética da obra de arte, porquanto vão além da mera fisionomia “bonita” e previsível de grande parte daquelas “peças” desprovidas de força anímica (e de imaginação) que inundam o ambiente artístico, hoje, e não só no Brasil.
Mais que apenas denunciar o que há de podrido e irrecuperável no aqui e agora do mundo, alguém, parece, deseja puxar conversa sobre outras hipóteses de mundo. Os antigos davam a tal gesto o nome de poesia.
Ricardo Aleixo
Poeta, artista e pesquisador de literatura, outras artes e mídias.
Doutor em Letras pela UFMG, por Notório Saber.